Setenta anos atrás Suzuki observou que as crianças falam sua língua materna com facilidade, e a aprendem em casa com seus pais. Ele concluiu que há certas condições na ocasião da aquisição da linguagem que são comuns a todas as culturas. Todos os pais presumem que seus filhos aprenderão a falar sua língua materna, e nunca se perguntam se a criança terá “talento” para isso. Suzuki pensava que se pudéssemos copiar esse tipo de processo de aprendizagem para outras áreas do aprendizado da criança, seríamos excelentes em qualquer coisa que quiséssemos fazer! Algumas dessas características são: envolvimento da família, encorajamento contínuo, começar cedo, escutar diariamente, repetição constante, leitura adiada, etc. No método dele, o Professor, o Pai e o Aluno formam um time (triângulo) e trabalham juntos em harmonia. Para que esse time funcione de maneira fluída como uma “dança”, cada membro precisa fazer sua parte e compreender seu papel e o papel dos outros membros, para que ninguém se sinta como a “estrela” do time, ou apagado, incapacitado ou sobrecarregado.

Vamos revisar, então, os papeis de cada parte no triângulo:

1. Papel do Pai:
a) Participar das aulas regularmente (tanto aulas em grupo quanto individuais) e fazer anotações detalhadas durante as aulas
b) Observar silenciosamente
c) Sempre acreditar que seu filho é capaz, assim como você acreditou que ele falaria sua língua materna.
d) Praticar seguindo as orientações do professor
e) Ser o fiscal do CD!! Colocar o CD em casa, no carro, ou em qualquer lugar onde a criança vá
f) Aprender o básico do instrumento, e como cuidar dele
g) Amar a criança incondicionalmente, e ajudá-la através das dificuldades (aceitação)
h) Preparar a criança mentalmente, emocionalmente e fisicamente para a aula
i) Incentivar a cooperação e não a competição entre colegas no grupo
j) Fazer todas aquelas coisas que o professor não tem o poder para fazer (lavar as mãos antes da aula, cortar as unhas, oferecer lanche antes da aula, oferecer água antes da aula, etc)
k) Dar apoio ao professor e ao aluno
l) Dar exemplo de comportamento para o aluno (concentração, manter a calma, perseverar, sorrir, ter paciência, etc)
m) Motivar a criança mas não entrar em desespero se a criança não mostrar muito interesse ou vontade de tocar ou praticar às vezes
n) Se informar acerca do método Suzuki (ler, PPO da SAA, podcasts, etc)
o) Se conectar com outros pais que estão no mesmo processo

2. Papel do professor:
a) Plantar o jardim (manter uma aula balanceada)
b) Monitorar o crescimento das sementes (escutar, revisar, dialogar regularmente com o pai e com a criança)
c) Tomar decisões sobre a colheita (selecionar peças para concertos e recitais)
d) Ajudar o pai a educar o filho através da música para que a criança cresça cercada por sua beleza e paz, desenvolvendo, ao longo do caminho, um coração nobre

3. Papel do aluno:
a) Ser criança (com tudo o que isso implica)
b) Entender os adultos no triângulo Suzuki
c) “Cooperar” o máximo possível para fazer as aulas e praticar em casa

4. Triângulo Suzuki:
- O Professor deve ter uma conexão com o Pai para que o Aluno confie no Professor. A criança não abrirá mão de ter o Pai como professor a menos que o Pai responda ao Professor como “Professor”
- Pai e Professor devem ter uma “aliança” para servir e ajudar o aluno da melhor forma possível
- A “confiança” é essencial no funcionamento fluído do triângulo Suzuki
- É essencial haver uma comunicação honesta
- Ninguém deve estar com tarefas demais a ponto de ficar sobrecarregado. Talvez isso esteja fazendo com que outro membro do triângulo não tenha nenhum espaço para fazer sua parte.
- O instrumento: dimensão acrescentada ao triângulo Suzuki original (por Ed Sprunger)

5. Situações comuns que vamos encontrar, como Pais, e possíveis soluções:
- Não encoste em mim e não me diga como fazer isso! Eu já sei, me deixe fazer! (Concorde com a criança e proponha talvez fazer um vídeo e enviar para o Professor!)
- Agora não, eu estou brincando! Agora não, eu estou lendo! Agora não, eu estou terminando meu dever de casa! Eu tenho que terminar de assistir esse filme! (Adiando, procrastinando, vá VOCÊ e pratique no lugar da criança!)
- Minha barriga está doendo… meu pescoço está coçando! (Talvez a criança necessite de atenção, sente a criança em seu colo, escute, mostre empatia para com ela, etc.)
- Estou com fome, e estou com sede, estou com frio/calor, que horas é a janta? (Ofereça água, comida, coloque ou tire um agasalho, ou seja lá o que for que a criança necessite antes de começar a praticar. Se mesmo depois de ter todas essas necessidades saciadas a criança continuar a reclamar, então ela precisa de algo mais, escute!)

6. Para pensar:
- A criança está desenvolvendo robustez emocional e intelectual?
- Qual é o estilo de aprendizagem que a criança demonstra?
- A criança está desenvolvendo expressividade musical?
- As frustrações na prática do instrumento em casa se tornaram mais fáceis ou mais difíceis de lidar?
- Não queremos ter que desconstruir tudo e reconstruir a técnica no futuro. Então, estamos praticando tendo em mente conceitos técnicos.
- O livro 1 é o LIVRO DA POSTURA! Caminhe devagar através do livro 1 ao invés de correr pelas músicas do livro.
- Ao invés de pensar em termos de qual é a próxima peça a criança irá tocar, deveríamos pensar em qual habilidade a criança está trabalhando (manter o dedo mindinho no arco, pés na posição de tocar, som ressonante, etc). Quando Pai A pergunta ao Pai B “Em qual música seu filho está?”, o Pai B poderia responder “Nós estamos trabalhando som bonito, dedos arredondados e dedo mindinho no topo!”

A educação de nossos filhos é o trabalho mais importante que temos à nossa frente. Eles são o futuro da humanidade. Eles carregarão a esperança e a responsabilidade de criar um mundo melhor. Devemos, portanto, tentar oferecer todos os elementos que pudermos para garantir que eles alcancem esse objetivo e as virtudes que serão necessárias nesse caminho.

Traduzido por Mariana Moritzsohn